Nossa
Senhora do Carmo e o Escapulário
Fonte:
Maria do Carmo Hakim Silva
Artigo
extraído do jornal "Jesus te Ama", edição de julho/2007,
publicação
da "Comunidade de Aliança Jesus te Ama".
A
palavra Carmo corresponde ao Monte do Carmo ou Monte Carmelo, que significa
Jardim, na Palestina (Terra Santa). Uma montanha com 25 quilômetros de
comprimento e 12 de largura. A ordem dos carmelitas venera com muito carinho o
profeta Elias, considerado seu patriarca modelo, e a Virgem Maria, venerada com
o título de Bem-Aventurada Virgem do Carmo.
Um
livro muito antigo da ordem comenta a visão de Elias mostrando a Virgem
dirigindo-se ao Monte Carmelo, em forma de uma nuvem que saía da terra. (I Reis
18:20,41). Os monges, no ano 93 d.C.,
construíram no Carmelo uma capela à Virgem. Aquela região, na época, estava sob
disputa entre as populações locais pelo domínio da região, e os monges foram
expulsos de lá, no século 13.
Quando
foram expulsos, espalharam-se pelo
Ocidente e fundaram vários mosteiros. Pouco tempo depois, em 1226, os
carmelitas apresentam o pedido de aprovação do papa Honório III, que o concede
oficialmente pela Igreja Católica de Roma.
Novas
perseguições os cristãos sofrem em 1235. Desta vez, os carmelitas dividem-se em
dois grupos: Os que permaneceram no Monte Camelo: estes foram massacrados e o
mosteiro incendiado, e os que se refugiaram na Sicília, em Creta, na Itália e
Inglaterra no ano de 1238; lá fundaram o Mosteiro de Aylesford; também não
foram aceitos pelos religiosos e eclesiásticos.
Para
os religiosos ingleses, esta seria mais uma comunidade no meio de tantas
outras, e também o modo de vida que levavam não condizia com os costumes
locais: levar uma vida monástica dentro de uma cidade inglesa. Preocupado com
as hostilidades sofridas naquele momento, o prior dos Carmelitas, Simon Stock,
considerado pela devoção e amor à Mãe do Carmelo, na noite de 16 de julho de
1251, em oração fervorosa à Virgem Maria, pede por ajuda e proteção, rezando:
"Flor
do Carmelo, vide florida.
Esplendor
do Céu.
Virgem
Mãe incomparável.
Doce
Mãe, mas sempre Virgem,
Sede
propícia aos carmelitas,
Ó
Estrela do Mar."
Uma
visão do frade carmelita Simão Stock mostrava a Virgem Maria cercada de anjos,
segurando nas mãos o escapulário da ordem e dizendo:
"Recebe,
meu filho, este Escapulário da tua Ordem, como sinal distintivo da minha
confraria e selo do privilégio que obtive para ti e para todos os Carmelitas. O
que com ele morrer, não padecerá o fogo eterno. Este é um sinal de salvação,
uma salvaguarda nos perigos e prenda de paz e de aliança eternas".
Vem
daí a devoção do escapulário de Nossa Senhora do Carmo.
O
que é o escapulário?
A
palavra escapulário vem do latim “escapula” que significa armadura, proteção. A
função do escapulário na história da Igreja é muito parecida com a do rosário,
constituindo-se numa das mais antigas e populares formas de devoção à Virgem
Maria.
O
uso do escapulário é um sinal de confiança em Nossa Senhora, para que ela cubra
de graças aquele que o usa e o proteja de todos os perigos espirituais e
corporais. O escapulário do Carmo é um sacramental, quer dizer, segundo o
Concílio Vaticano II, "um sinal sagrado, segundo o modelo dos sacramentos,
por meio do qual se significam efeitos, principalmente espirituais, obtidos pela
intercessão da Igreja".
O
escapulário é um sacramental, ou seja, uma realidade visível, que nos conduz a
Deus, com sua graça redentora, seu perdão e promessas. Santa Tereza
(reformadora da Ordem das freiras carmelitas juntamente com São João da Cruz)
dizia que portar o escapulário era estar revestido com o hábito de Nossa
Senhora.
Setenta
anos mais tarde, aparece a Virgem ao Papa João XXII, confirma esta promessa e
acrescenta outra, chamada a do privilégio sabatino, em que, mediante
determinadas condições, a alma do confrade Carmelita será livre do Purgatório
se lá estiver, no sábado a seguir à sua morte.
Os
Soberanos Pontífices consideram como pertencentes à Ordem do Carmo, todos os
que recebem o seu escapulário. Para que todos possam usufruir as graças
inerentes ao Escapulário, Sua Santidade, o Papa PIO X, em 16 de Dezembro de
1910, concedeu que o Escapulário, uma vez imposto, pudesse ser substituído por
uma medalha que tenha de um lado Nossa Senhora sob qualquer invocação (Carmo,
das Dores, da Conceição, de Fátima etc.) e do outro lado, o Coração de Jesus, e
benzida com o simples sinal da cruz, na intenção de substituir este
Escapulário.
Em
28 de Janeiro de 1964, o Papa Paulo VI concedeu ainda que todos os Sacerdotes
pudessem impor o Escapulário e substituí-lo pela respectiva medalha, pois até
aí era um privilégio dos Padres Carmelitas e de outros Sacerdotes que o
pedissem à Santa Sé, e nisto se mostra o desejo da Santa Igreja de que todos o
tragam.
Condições
Para
a 1ª graça (ser livre do fogo do Inferno, a mais importante de todas):
Ter
recebido este Escapulário imposto pelo Sacerdote e trazê-lo, ou a medalha que o
substitui. Morrer com ele ou com a medalha, o que significa que se saiu deste
mundo em estado de graça santificante.
Para
a 2ª graça (isto é, o privilégio sabatino: ser liberto do Purgatório no
primeiro sábado, depois da morte, se para lá se foi):
Além
das condições para a primeira graça, que é a mais importante, guardar ainda a
castidade própria de cada estado, que, aliás, já é obrigatória para todos por
mandamento divino; rezar, sabendo ler, todos os dias, o pequeno Ofício de Nossa
Senhora, ou, não sabendo, abster-se de comida de carne nas quartas-feiras e
sábados.
Estas
obrigações podem ser comutadas (a reza do Ofício e da abstinência de comida de
carne) por um Sacerdote, o que impôs o Escapulário ou o Confessor, por outra
obra pia, por exemplo: a reza de 7 (sete) Pai-Nossos, 7 Ave Marias e 7 (sete)
Glórias, ou pela reza do Terço ou por outra mais fácil.
Quem
reza o Terço todos os dias, esse vale sem ser preciso mais nada, podendo
aplicá-lo por todas as intenções de costume. O Sacerdote que reza o Ofício
divino, também já cumpre, sem ser preciso outra comutação. Aos homens e às
crianças, que normalmente rezam menos que as mulheres, pode-se comutar por 3
Ave Marias, rezadas diariamente. Assim aconselha o Santo Padre Cruz, que foi um
grande Apóstolo do Escapulário.
Quem
o pode receber?
Todos
os Católicos que o peçam, o podem receber, imposto por um Sacerdote. Podem-no
receber ainda as crianças batizadas, mesmo inconscientes, e os doentes
destituídos dos sentidos, pois, parte-se do princípio que, se conhecessem o seu
valor, o quereriam receber. É ótimo o
costume de o por logo no dia do Batismo.
O
Escapulário é de tecido de lã de cor castanha ou preta, mas o mais comum é o de
cor castanha. O Escapulário, uma vez benzido, não precisa de nova bênção quando
se substitui por outro; a medalha sim, precisa de nova bênção.
O
valor do Escapulário está no tecido de lã com a bênção própria, e não nas
imagens que costuma ter. Pode ser lavado, podem-se mudar os cordões, pode ser
revestido de plástico para não sujar etc. Devemos andar sempre com ele ou com a
medalha, e, sobretudo, tê-lo à hora da morte. Nunca o deixemos, mesmo ao tomar
o banho. Quem o recebeu e deixou de trazê-lo consigo, basta que comece de novo
a usá-lo, ou à medalha, sem precisar de nova imposição.
Sua
Santidade Pio X concedeu que os militares em campanha pudessem impor a si
próprios o Escapulário ou a medalha, uma vez benzidos pelo Sacerdote, e que
tendo acabado a sua missão, continuem a usufruir todas as graças e privilégios
a ele inerentes, sem o terem de receber de novo.
Certamente
que o Escapulário não dispensa os Sacramentos, que são os meios instituídos por
Nosso Senhor como via normal para nos santificar, nem dispensa das práticas das
virtudes. Não coloca no Céu as almas em pecado mortal, mas ajuda a bem receber
os Sacramentos e à conversão da alma e a perseverar no bem. Ajuda a sair do estado
de pecado mortal, onde houver um mínimo de boa vontade.
O
Escapulário do Carmo é um dom misericordioso do Céu, obtido por intercessão da
Mãe da Misericórdia, já que os justos e os pecadores custaram o Sangue de Jesus
e as Lágrimas e Dores de Maria Santíssima.
Alguns
exemplos
Proteção
nos perigos - Há alguns anos, três mocinhas foram passar uma tarde na praia da
Costa de Caparica (Portugal). Era um tempo em que as roupas de banho e as
praias não tinham descido à degradação dos tempos atuais. Todas tinham o
Escapulário do Carmo e nenhuma sabia nadar. Só uma persistiu em levá-lo, as
outras, por respeito humano, tiraram-no.
Brincavam
alegres à beira da água, quando uma onda perdida sobreveio inesperadamente e as
levou. O povo acorreu em grande gritaria. Surge outra onda que deposita na
praia uma delas, precisamente a que levava o Escapulário e se salvou. As outras
duas pereceram. Os seus corpos foram encontrados já em estado de putrefação
depois de três dias, junto ao Cabo de Espichel.
Proteção
contra o demônio - Assisti um dia aos exorcismos feitos por um Sacerdote sobre
um rapaz possesso do demônio. O diabo foi obrigado a confessar que se aquele
rapaz tivesse recebido antes o Escapulário, não poderia ter entrado nele.
Livra
do Inferno - Fui chamado para dar os últimos Sacramentos a um homem que tinha
alta patente na Maçonaria, que dissera a um amigo meu: "Quem me dera
ver-me livre da Maçonaria". Rezava todos os dias com os netos. Tinha
recebido o Escapulário em pequeno, pois fora aluno dos Padres Jesuítas, que o
impunham sempre. Cheguei, dei-lhe os Sacramentos e impus-lhe o Escapulário,
pois não o trazia consigo. Começou aos urros, como um leão preso na jaula e a
cama rangia fortemente. Depois, tudo acalmou. Não duvido moralmente da salvação
eterna desta alma.
A
um outro doente, com fama de muita virtude e a quem visitei, pus-lhe o
Escapulário. Pediu-me logo para se confessar. Tinha passado a vida cometendo
sacrilégios, pois tinha vergonha de confessar os seus desmandos sexuais. Morreu
santamente, louvando cheio de alegria a Misericórdia Divina.
E
tantos e tantos são os prodígios que teria para contar! Ah! Recebamos todos o
Escapulário do Carmo, porque ele é dádiva misericordiosa de Maria, obtida do
seu Filho Jesus! O Escapulário, o Terço e a Devoção ao Coração Imaculado de
Maria fazem parte da Mensagem de Fátima. Tantos Papas e tantos Santos têm
falado dele, que será tristeza, para não se dizer loucura, não lhe ter apreço.
Leão XIII beijava-o repetidas vezes na agonia. Pio XII trazia-o desde a infância,
e queria que todos o soubessem. João XXIII e Paulo VI consideram-no como grande
graça concedida ao mundo. P. O. J. R.